domingo, 26 de fevereiro de 2012

A macacada



Há uns dias li este belo post, na esteira de muitos outros de igual qualidade, e devo dizer que concordo com o grosso da a argumentação apresentada. Percebo perfeitamente where he's coming from, toda esta questão absurda do pseudoracismo irrita-me como parece irritar o Diego. Julgo que chamar “preto” não é sinónimo de racismo, e poderia usar essa palavra com igual descontracção para nomear o Emerson, o Witsel ou o Helton. Se a “preto” sucede algum “cabrão” ou “estúpido” são contingências do momento, como as que ditaram que a “uruguaio” sucedesse “de merda” depois da jogada do terceiro golo em S. Petersburgo, sem que por isso eu tenha qualquer problema com pessoas dessa nacionalidade. Esta lógica do politicamente correcto é uma camisa de forças perigosa, porque mete coisas muito diferentes num mesmo saco e aproxima-nos dum puritanismo pouco racional.
Posto isto, eis a parte com a qual não concordo: os urros de parte do público do Dragão parecem-me racistas, de facto, independentemente das parvoíces que tenham sido ditas depois. Não quero com isto dizer que aquela gente é efectivamente racista, mas a manifestação é-o, na minha opinião. Senão vejamos: que na emoção da bola tomemos liberdades que seriam impensáveis noutro local, parece-me legítimo, o que é o futebol senão emoção? Eu próprio, absorvido pela tal mole sobreexcitada, imagino-me sem dificuldade a emitir sonoros “oincs” cada vez que um jogador adversário toca na bola. Até um jogador cujos dotes técnicos e postura geral admiro, como o Lucho, por exemplo, poderia receber dito tratamento da minha parte sem que a minha consciência me fizesse comichão. Afinal de contas, aquele é o inimigo, ocasional ou habitual, é a némesis do momento. Acho que “oinc”nem é um grito costumeiro, mas podia ser e talvez até seja boa ideia, fica para consideração.
O que já não me parece moralmente lícito é estabelecer distinções na vara, porco é porco e é tudo igual, a característica que o define é ser o bicho mau que luta contra os meus. O bicho eleito nem tem de ser um porco, ou até podem acumular epítetos como quem acumula reformas. Mas parece-me gratuito chamar macacos a alguns porque são porcos de montado e a outros não porque são large white. Esta é a linha que não ultrapasso, a que divide insultos “justificados” e generalizados das tais generalizações arbitrárias e dirigidas, baseadas em noções ignorantes. Admito que talvez seja uma grey area de lógica falível, mas a linha tracei-a eu e é assim que a sinto. Mas repito, não me parece que os tais urros sejam sintoma de verdadeiro racismo por parte dos adeptos, até acho possível que houvesse pretos no coro. Todos podemos exibir comportamentos episódicos que não são reflexo da nossa natureza, ainda para mais num ambiente tão especial como um estádio, de costas e mente quentes com a turba que nos rodeia. Por isto, também não me parece que sejam muito graves. Parecem-me sim uma manifestação racista que ficaria muito triste por ouvir na Luz.
Agora, se os uhuh's dos adeptos são mais graves que as declarações imponderadas e ignorantes do Mancini, não sei.

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