quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A equipa de todos nós



de volta ao país dos queijos de pasta mole, ao abrir despreocupadamente o browser dou por mim a descobrir que portugal jogou, e perdeu!
não serei certamente um indefectível adepto da equipa de todos nós. os raros assomos de entusiasmo, os berros e urros apaixonados e desesperantes para quem me rodeia apenas me acontecem com as quinas nos mundiais e europeus, e e...  diga-se que berros e urros apaixonados e desesperantes para quem me rodeia são comportamentos que exibo em qualquer mísero joguito de pré-época do meu clube, por aí se vê que a pobre selecção parte com um tremendo handicap e tem verdadeiramente que merecer o meu apoio. no entanto, daí a esquecer que aqueles macacos jogam e perder-me nas minudências do discurso dum candidato ps às eleições francesas numa entrevista na tv vai uma grande distância. o eu típico iria, pelo menos, acompanhar periodicamente o resultado pela net, torcer um bocadinho agora pela possibilidade futura de mandar berros e urros apaixonados e desesperantes para quem me rodeia. mas não, esqueci-me e a notícia nem me perturbou muito.
poderia ficar orgulhoso, pensar "sim senhor, tou a ficar um homem, tou verdadeiramente mais preocupado com a votação do FEEF na eslováquia ou com a posição oficial de uma candidato francês sobre as eurobonds que com o dinamarca-portugal, decisivo para o euro 2012!". mas talvez seja muito cedo para alardear aos 4 ventos o valor das minhas prioridades, porque a verdade é que se fosse uma eliminatória europeia dos meninos do meu clube tava-me bem a cagar para tudo o resto, pelo menos durante 90minutos. além disso, estes meus interesses superiores, este meu apego à sociedade e à política e às coisas que verdadeiramente interessam e que nos definirão como civilização nos anos vindouros não é totalmente altruísta, já que muito do que se decida a nível europeu nos próximos meses terá influência imediata e definitiva sobre o meu projecto de vida. e tudo isto a um nível tal que, nos últimos tempos, dei por mim a aceitar e a querer acreditar em medidas contrárias à minha protoconsciência política de sempre, só porque serão eventualmente favoráveis aos meus interesses profissionais, numa perspectiva bem mesquinha, nada altruísta, certamente pouco baseada numa defesa dos superiores interesses do povo e completamente indiferente ao avanço civilizacional da humanidade. até os indignados, que teriam sido fonte de grande entusiasmo há uns meses, que são sem dúvida um dos fenómenos mais excitantes no panorama actual, me inspiram algum temor, fazem sobressair  o scrooge individualista que há em mim, que os insta com xiuus camuflados e confrangidos a baixar a voz, a protestar mas com juizinho, a reivindicar mas sem perturbar demasiado as instituições que infelizmente se têm alinhado com este sistema cada vez mais injusto mas que, se eu fizer a minha parte, me darão em breve o meu emprego de sonho.
para descansar o meu séquito de incondicionais leitores inexistentes devo dizer que não me sinto um scrooge! acho que poucas pessoas se conseguem alhear totalmente dos seus interesses pessoais e efectivamente desejar coisas que lhes são contrárias unicamente porque se alinham com as suas convicções quanto a um bem comum. acho que posso  comprometer ligeiramente os meus ideais em prol do meu interesse pessoal e continuar a ser, grosso modo, um gajo porreiro. afinal de contas, estes meus conflitos internos são precisamente isso, internos, não têm expressão exterior, são unicamente vicissitudes da minha razão e consciência. apesar disso este nosso tempo é, de certo modo, o fim das ilusões. esta conjugação de factores parece alinhavada pelo cosmos para me mostrar que, entre uma explosão no sentido das minhas convicções ou uma transição calminha que permita a manutenção do status quo e que me permita exercer a actividade q me apaixona, tendo a engrossar as fileiras dos hipócritas. a crise das dívidas soberanas marca a verdadeira consciencialização das minhas concessões.
nada disto me faz sofrer, mas faz diminuir bastante o meu interesse pela selecção nacional.

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