domingo, 16 de outubro de 2011

A maçã



passados uns dias do trágico acontecimento ainda n despontou em mim o sentimento que parece ter tomado de assalto o mundo. não falo da indignação perante o paradigma económico vigente nem da suspeita geral que recai sobre a cada vez mais íntima relação Merkel-Sarko (que homem baza depois do trabalho para se "reunir" com outra mulher, quando a sua está prestes prestes a rebentar??). Falo de algo que parece mais transversal, a consternação pela morte do Steve Jobs. parece que quem não diz "obrigado steve, quem me dera que tivesses tido tempo para me fazeres um Ifilho" não é gente. pois eu confesso que a sua morte me deixou absolutamente indiferente, pelo menos até ao momento em que me apercebi de que grande parte da humanidade estava imersa num pesadíssimo luto de orfandade e idolatria. aí a indiferença transformou-se num sentimento mais difícil de definir, mas certamente no lado negativo da escala, as feelings go. talvez esta indiferença inicial seja a constatação da minha ignorância, obviamente algo comum a tanta gente deve ter alguma sustentação real, por isso mantenho-me totalmente receptivo a explicações plausíveis para este fenómeno q me ultrapassa. mind you, n tenho Icenas, só tive contacto com Ipod's e Iphones, reconheço-lhes os méritos e tal, mas só isso, não foi por aí que o stevie mudou a minha existência ... para mim, nem o facto de ter criado gadjets cada vez mais bonitos e estreitos e ergonómicos e adorados por todos os homens da minha geração o torna o newton nem o discurso de stanford me inspira ao ponto de o ver como um qualquer luther king do sec21. as suas criancinhas chinesas certamente não o tornam o gandhi.
no fundo, julgo que aquilo que mais me incomoda (e obviamente tudo isto é interpretação pessoal altamente subjectiva e falível) é o facto de o ver como o homem que sublimou o consumismo, que o moldou aos novos tempos e aos novos homens. tornou cada um dos membros da sua congregação (pseudo)co-autor da sua onerosa liturgia, levantando assim quaisquer barreiras morais ao consumo que ainda existissem. os meninos que na secundária queriam as levis da moda, escondendo-se atrás da eventual superior qualidade da ganga para justificar perante os pais o uso de uma peça tão cara, compram agora sem complexos e do seu bolso as sucessivas gerações de iphones e ipads, cada vez mais bonitos e mais passiveis de adaptação individual através do desenvolvimento pessoal das suas aplicações, cada vez mais fácil. o mundo I retirou da equação do consumo a desonestidade intelectual, última réstia de consciência das suas falhas - quem chupou no Ibeberão está verdadeiramente convencido de precisar dele. O mundo do Jobs tornou-se uma necessidade funcional e estética para o rebanho da maçã, que agora lhe tece loas e lhe acende velas.
o homem foi certamente um génio comercial, mas será isso suficiente para justificar estas demonstrações de reverência? será que esta é a verdadeira natureza dos ícones do futuro?  será que este é o único tipo de Messias a que ainda podemos aspirar? e, se assim for, será isso bom sinal?
eu cá n sei, para mim uma maçã continua a ser só uma maçã, porra!

http://www.southparkstudios.com/full-episodes/s15e01-humancentipad

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