quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Inverno



Me voilà , turba impaciente!
É verdade, para mim este é o verdadeiro Inverno. Eu sei que manifesto de forma veemente o meu apreço por Invernos mais rigorosos, mas este é the real deal, a estação que acompanhou a minha infância provinciana.
É uma estação calma, sem presunções. Raramente há cá céus de chumbo ou tempestades violentas. Não há ventos ciclónicos carregados de norte. Não há montanhas nevadas de cumes inacessíveis que povoem de monstros fantásticos a imaginação dos petizes locais, bichos perigosos só o peixe-aranha e o bife bêbado, mas nenhum deles tem por hábito atacar no Inverno. É uma estação segura!
Mas é sobretudo uma estação soalheira, muito raramente algo interrompe a fase gasosa que nos liga ao céu azul. Nem neve nem chuva (ou quase), queres água vai comprar, que grátis é um conceito do século passado. Resta o sol, e que sol… Não é o implacável tirano que nos oprime de prazer durante o Verão, que nos atira ao mar e nos restringe às sombras. É agora um astro mais líquido que pastoso, decidido a mostrar-nos o lado complacente da sua bipolaridade. Entra por todo o lado e é bem-vindo, ilumina as cidades brancas, aquece-nos a pele, injecta-nos alma nos humores adormecidos.
É verdade, para mim este é o Inverno do sol e da praia agreste, da fatia dourada e do bacalhau assado, da lareira, da vida fácil no lar paterno.É um privilégio passar aqui o Inverno do meu descontentamento.  

1 comentário:

  1. Que bom ler-te de novo!
    (E quantos sentidos pode ter a frase «para mim este é o verdadeiro Inverno»!)

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